XCOM é uma franquia com pedigree no gênero de estratégia por turno. De 94 até 2001 foram 6 títulos que, mesmo alguns tendo suas controvérsias e erros, são marcantes o suficiente para que fossem lembrados por todos que os jogaram. Infelizmente, a marca não foi bem gerenciada e o desenvolvedor eventualmente fechou as portas, junto com qualquer outro projeto relacionado a saga.
Apenas em 2010 foi se ouvir sobre XCOM de novo, e as notícias não foram das melhores. A franquia voltaria…
…como um shooter?
Essa notícia foi recebida exatamente como esperado, com desdém e confusão por reviver uma prestigiada franquia de Turn-Based Strategy só para transformá-la em um gênero que, na época, estava extremamente saturado. Apenas dois anos depois o estúdio Firaxis anunciou XCOM: Enemy Unknown, talvez tenha sido o plano original da 2K ou talvez seja um produto da reação negativa ao anúncio de The Bureau: XCOM Declassified; mas o resultado final é que XCOM estava de volta, e seu retorno foi triunfante ao ponto do criador original elogiar Enemy Unknown, dizendo “É incrível como depois de 20 anos uma marca que andou por um caminho tão errado finalmente foi justiçada.”
Chegamos agora no terceiro título do reboot da Firaxis, trazendo algumas similaridades com o terceiro título da saga original “Apocalypse”, o qual tem uma reputação controversa com os fãs. Para Chimera Squad, há algumas reservas e críticas com a direção da série. Críticas as quais tem seus méritos e contrapontos.
Como um produto, Chimera Squad oferece um bom tanto de conteúdo pelo seu preço de tabela. O preço original é 20 dólares, um terço do preço de um jogo AAA normal, e o jogo com certeza entrega mais do que um terço da experiência XCOM. Porém no Brasil o jogo custa 100 Reais mesmo na Steam, que tem um ótimo sistema de preço regional e várias empresas fazem uso dele. A esse preço a situação começa a inverter um pouco, e seu conteúdo pode não valer o preço.
Ignorando esse aspecto, temos uma bolsa mista. Em seu núcleo Chimera Squad ainda é uma experiência XCOM em jogabilidade, porém boa parte das decisões tomadas aqui levam a franquia para um caminho não tão promissor. A maior diferença vem na atmosfera desses jogos; Enemy Within e War of the Chosen tomavam uma perspectiva um pouco mais hard fiction para o tema de invasões alienígenas. Estávamos no leme da resistência contra uma invasão, fazendo uso de engenharia reversa, tenacidade e persistência para superar chances esmagadoras. Em Chimera Squad até é compreensível que a atmosfera não seja tão opressiva e sem esperança, mas o rumo tomado faz mais jus a um filme “buddy cop” do que uma ficção crível e realista. A dinâmica do esquadrão é quase puramente voltada para comédia, os vilões são extremamente desinteressantes, a história jamais te surpreende com exceção de um único momento que nem sequer foi explorado corretamente.
Em outras palavras, se XCOM fosse um anime, Chimera Squad seria o episódio da praia, recheado de fan-service e sem um propósito claro na história como um todo.
Até mesmo a personalidade dos vários integrantes do esquadrão são voltadas para estereótipos e clichês cômicos. A víbora, como um exemplo, é a tsundere da turma. A personagem insegura sobre a própria confiabilidade e com um sério receio de proximidade com o esquadrão. Em outras palavras: “Não é como se eu gostasse d-desse esquadrão. B-baka.”
Mas discutivelmente, a verdadeira qualidade de XCOM nunca veio de sua história ou diálogo, por mais que fossem competentes. O verdadeiro foco da franquia é sua jogabilidade tática afinal de contas, e todo o chassi de estratégia em turnos ainda está presente. Uma tela quadriculada, pontos de cover, um percentual para cada tiro dependendo da sua posição e arma, e diferentes habilidades/equipamentos para manipular o fluxo da batalha. Dentro das maiores mudanças a fórmula foi a substituição do antigo sistema de turno para um de linha do tempo onde cada unidade age independente de um turno, e o sistema de breach (invasão).
‘Breach’ é uma adição interessante, como Chimera Squad age primariamente em cenários urbanos e em situações de reféns, é perfeitamente compreensível que o início de cada missão seja nos nossos termos. Cada tela disponibiliza alguns pontos de entrada diferentes, com diversos prós e cons. Alguns podem exigir algum item especial, dentre eles explosivos, um cartão decodificador, uma armadura flexível para se esgueirar por tubos de ventilação, etc. A ordem de ação nessa fase irá ditar a ordem que seus soldados aparecerão na linha do tempo, o primeiro sempre estando no topo de cada encontro; e o último, no fim. Quanto ao novo sistema de linha do tempo, ele envelhece muito rápido. A maior crítica do antigo sistema de turnos era quanto tempo os aliens demoravam no turno deles, é um espaço de tempo enorme e não-interativo. Tal demora agora é simplesmente parcelada, mas ainda está lá. Da metade para frente fica óbvio que esse sistema não é uma evolução já que você sempre é direcionado a eliminar os inimigos com maior prioridade na linha do tempo, suas formas de resolver um turno são drasticamente reduzidas em prol de uma escolha obviamente “certa” que reduz o risco e tempo de espera.
Fora o campo de batalha, o gerenciamento também foi severamente simplificado. A campanha que costumava demorar meses dentro do jogo agora dura apenas semanas, e com isso muitos cortes foram feitos. Sua base não pode ser expandida, há um limite de 8 agentes para a campanha (sendo que existem 11 no total), o sistema de pesquisa é extremamente restrito e captura de inimigos não faz nada além de contribuir para um percentual de recompensas extras ao término da missão.
Esse foco mais simplificado não é algo necessariamente ruim, isso faz com que Chimera Squad seja um ótimo ponto de entrada para quem está em dúvida com o gênero e está incerto se o ritmo de estratégia será divertido para si. Por outro lado, muitas coisas que XCOM fazia de único não estão presentes aqui, junto com visuais simplificados, alguns erros e ambiguidades nas descrições de habilidades, e vários outros sinais de um jogo com verba limitada comparado ao nível de qualidade esperado da Firaxis até o momento.
O resultado é um jogo que com certeza tem um apelo para os fãs da série, mas não sem vários sacrifícios; ao mesmo tempo que serve como um título introdutório que talvez não seja a melhor representação da saga para novatos. Tendo em vista o escopo do projeto, todas essas falhas são compreensíveis, apesar de ser algo a se considerar.
Há sempre a preocupação de que Chimera Squad não seja somente um título experimental e que essas falhas talvez carreguem para XCOM 3. Pessoalmente eu não acredito nisso, tenho 99% de certez…
…droga.
PROS:
- A fórmula garantida da série ainda está presente de forma a agradar os fãs;
- Um foco simplificado faz com que seja uma experiência convidativa;
- Algumas interações entre personagens são genuinamente divertidas.
CONS:
- Visuais, descrição de habilidades, interface e extras são inferiores aos outros jogos da série;
- A história é completamente descartável;
- Vários bugs atrapalham a experiência;
- Preço regional não condiz com o valor que o jogo se propõe a entregar.
NOTA: ☕️☕️☕️
Plataformas:
- PC – Steam (plataforma analisada).
Como um fã da série e do gênero de estratégia, Chimera Squad não foi a melhor das minhas experiências. Eu compreendi a intenção do jogo, e não acho justo ser muito crítico com algumas de suas maiores falhas, porém eu ainda espero grandes coisas de XCOM 3.
Se eu recomendaria Chimera Squad? Com certeza, quando estiver com 50% de desconto no mínimo.
Deixe uma resposta