Uma pergunta constante que me faço é “até onde as mídias de consumo são capazes de contar uma história com perfeição?”
Às vezes encontramos filmes que dariam bons livros, séries que dariam bons filmes… Nesses casos, concluímos que há uma forma melhor, mais efetiva de se contar determinada história do que a mídia original na qual a consumimos.
Ao me deparar com Erased (“Boku dake ga Inai Machi”, como é conhecido no Japão, e se traduz como “A cidade onde apenas eu não existo”), fiquei cativada pelo peso da história e a forma poética com a qual foi representada na animação do Studio A-1 Pictures, adaptada do mangá original de Kei Sanbe.
A história acompanha Fujinuma Satoru, um homem de 29 anos que trabalha como entregador de pizza após ter fracassado ao tentar se tornar mangaká. Satoru, porém, não é um homem comum; ele é capaz de voltar alguns segundos no tempo usando o que chama de “Revival”, sempre que uma tragédia iminente se aproxima de sua localização.
Assim, somos introduzidos ao “poder sobrenatural” de Satoru que, depois de uma fatalidade, acaba voltando 13 anos no tempo, aos seus 11 anos de idade. Através do Revival, ele retorna à infância e precisa resolver a maior tragédia de sua vida, um crime que marcou à ele e todos que conhecia em sua juventude.
Com o conhecimento básico da história, pois aqui evitei dar spoilers à todo custo, seguiremos com os pontos positivos da obra, os quais ela tem de sobra.
A narrativa intrigante, que envolve elementos pesados como abuso infantil e até homicídio, tem elementos de fantasia, mistério e suspense que prendem a atenção do espectador e se encaixam de forma louvável.
Mesmo os mais durões se emocionarão e prenderão a respiração ao acompanhar Satoru em sua investigação cheia de reviravoltas e sustos em busca do serial killer que traumatizou nosso protagonista e seus colegas. Com delicadeza e sensibilidade, os socos no estômago dados pelos plot twists são ainda mais chocantes.
Acompanhando o enredo, e complementando-o, há o desenvolvimento primoroso dos personagens. Como a maioria deles são crianças, e a história envolve investigações e crimes hediondos, é comum se sentir um pouco “incomodado” e imaginar como um bando de crianças de 10 anos pode encontrar e sabotar os planos de um criminoso desconhecido… Porém, a mente adulta de Satoru e seu conhecimento do futuro são a vantagem suprema das crianças, e como ele é o “pivô” da revolução, convencendo os amigos e unindo todos no mesmo ideal, fica sob sua responsabilidade planejar os contra-ataques ao criminoso.
É graças ao esforço de Satoru em manter os amigos à salvo que o próprio Satory se torna mais esforçado e corajoso (como seu super-herói favorito da infância), e seus amigos saem da zona de conforto que era uma bênção da ignorância de sua juventude, crescendo e se tornando mais empáticos. O esforço das crianças em proteger umas às outras, em estenderem a mão e se apoiarem, mesmo sem terem a real noção do perigo que as cerca (ou, no caso de Kayo, tendo noção do perigo e o risco que corria todos os dias), forma uma corrente de amor e apoio que emociona e inspira o espectador.
Nossa recomendação, por fim, é que os três últimos episódios do anime sejam assistidos de uma só vez. O ritmo acelera e todos os conflitos caminham para o encerramento. Logo, o impacto será maior ao acompanhar de uma só vez.
Com a abertura pelo clássico Asian Kung-Fu Generation e encerramento por Sayuri, Erased é uma obra que surpreende pela forma sensível com a qual lida com temas pesados enquanto cria uma atmosfera de suspense e investigação regada à fantasia. Com personagens carismáticos e importantes, os altos e baixos pegarão o espectador de surpresa, prendendo sua atenção até o último segundo. Disponível no Crunchyroll, Erased também foi adaptado para um live-action de 12 episódios e um filme, bem como uma light novel.
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