O catálogo de animes do Netflix tem aumentado exponencialmente. Desde releituras de Cavaleiros do Zodíaco até obras antigas licenciadas como Black Butler e Hellsing Ultimate, sua expansão constante mantém uma boa diversidade nos produtos disponíveis. Nesse meio, encontramos até mesmo obras mais emocionantes e introspectivas, como Violet Evergarden, que chama a atenção pela belíssima animação e retratação de um período de guerra, além de conflitos psicológicos e superação emocional.
Violet Evergarden é um anime produzido pelo Kyoto Animation, adaptando a light novel de mesmo nome escrita por Kana Akatsuki e ilustrada por Akiko Takase. Licenciado pelo Netflix, foi lançado em 2018 e conta com uma temporada de 13 episódios e um OVA disponíveis na plataforma. A história acompanha Violet Evergarden, a protagonista, em seu processo de reintegração na sociedade e desenvolvimento pessoal após sair de uma guerra que lhe custou a vida de alguém amado. Assim, acompanhamos Violet em sua jornada pessoal enquanto seu universo se adapta à paz do pós-guerra.
O Kyoto Animation, estúdio responsável pela obra já mencionado, investiu pesado na qualidade e fluidez da animação. Com cenários amplos e claros, urbanos e rurais, tudo é extremamente detalhado e vivo. Nas cenas de guerra e tensão, o ambiente escurece e os detalhes são vistos de forma mais visceral, como no sangue jorrando e corpos impactados em batalha. Os olhos e cabelos dos personagens tem brilho e vigor próprios, o que os torna mais expressivos e vivos, um show à parte. A alta qualidade artística casa perfeitamente com a narrativa fantástica, que explora a moral humana, os conflitos e a problemática que envolve uma nação e uma sociedade que precisam seguir em frente após uma guerra devastadora. E é exatamente isso que Violet faz.
Através de um “serviço de escrita”, Violet se torna uma Autônoma de Automemórias (Auto Memories Doll, em inglês), responsável por escrever cartas para pessoas que precisam de ajuda em escrevê-las para pessoas importantes em suas vidas. Munida de sua máquina de escrever, Violet viaja as mais diversas distâncias por seus mestres, para levar os sentimentos deles em suas palavras. A profissão surgiu após o fim da guerra, e está em ascensão, conquistando pessoas em diversas áreas, desde grandes cidades até os vilarejos mais remotos. Assim, a personagem cresce ao encontrar e se relacionar com outras pessoas em sua jornada pessoal, tudo isso para responder uma pergunta que guia sua busca por respostas.
Assim, dentro da narrativa principal, ramificações se desenvolvem conforme a protagonista se envolve com outros personagens e histórias secundárias se desenvolvem. Elas ajudam a tornar o universo mais vivo e tiram o foco da protagonista, o que outras obras não conseguem fazer. Isso fortifica o senso de que todos os personagens são importantes e que seus sofrimentos e superações são válidas; eles existem e não são apenas pano de fundo em sua obra.
O método utilizado para contar a história não é nada novo, mas foge um pouco do padrão linear: somos introduzidos à Violet no momento de mudança em sua vida, e vemos a protagonista aprendendo a se comportar em sua nova rotina enquanto lida com seus traumas. Em paralelo, sua história é revelada aos poucos e a obra se aprofunda assim também, o que pode deixar alguns espectadores ansiosos pela pequena demora que isso leva para acontecer, investindo num certo mistério até aproximadamente metade do anime.
Violet Evergarden é belíssimo, emocionante e poderoso. O desenvolvimento de Violet após os traumas sofridos e dos personagens secundários enriquece e empodera a obra, que ganha ares de clássico mesmo sendo tão recente graças ao esmero e cuidado investidos no universo. Com certeza você desejará receber uma carta repleta de sentimentos gentis ao terminar a história da Autônoma de Automemórias.
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Review – Violet Evergarden – Anne Souza – Portfolio
[…] Originalmente postado em Café com Geeks […]