Ni no Kuni: Wrath of the White Witch é a melhor experiência Ghibli jogável

Ni No Kuni, desenvolvido originalmente pela Level-5, é o famoso jogo conhecido por ter arte do lendário Studio Ghibli e trilha sonora de Joe Hisaishi. Recentemente, o jogo recebeu uma remasterização para a maioria dos consoles da atual geração.

A história de Oliver, nosso pequeno protagonista, é a típica Jornada do Herói que estamos acostumados a ver em mídias de entretenimento: Harry Potter, Lord of the Rings, Star Wars… E muitas, muitas outras que também se utilizaram desse recurso narrativo para construir um protagonista carismático e envolver o espectador na mesma jornada de descobrimento e desenvolvimento. Após uma tragédia, Oliver é recrutado por Drippy, uma fada de outro universo com a revelação que Oliver é… um bruxo!

Com isso, ambos partem para outro mundo (Ni no Kuni, o Outro Mundo ou Outro Reino), já que Oliver precisa desenvolver suas habilidades mágicas. Além disso, Drippy acredita que Oliver possa vencer o mal que assombra o Outro Mundo: Shadar, o Dark Djinn.

Oliver e Drippy no início da aventura – Reprodução/ObservatórioDeGames

Assim, tendo convencido Oliver a tomar essa empreitada e assumir seu papel como salvador, Drippy treina Oliver e juntos eles enfrentam diversos desafios e dificuldades em busca de aprendizagem e solução para as maquinações de Shadar e seu domínio obscuro sobre o mundo.

Shadar é capaz de quebrar o coração das pessoas. Isso as deixa num estado “letárgico”, variando entre desmotivado, descontrolado, medroso… Através de seus poderes recém-adquiridos e com o apoio de Drippy em sua jornada, Oliver aprende a recuperar os pedaços partidos dos corações das pessoas de uma forma muito fofa e simbólica, e isso acaba demonstrando o poder mágico que reside no nosso pequeno mago.

Em termos de batalha, Oliver pode realizar feitiços como bolas de fogo, congelar e etc. Além disso, ele pode invocar seus Familiars, “monstrinhos” colecionáveis que evoluem e o ajudam em batalha, com status próprios, golpes e especializações dependendo da raça. Oliver pode carregar três deles consigo, e trocá-los praticamente na hora que quiser através de um sistema de armazenamento presente no jogo.

Oliver pode escolher entre 3 familiars ou realizar feitiços com sua varinha – Reprodução/EXP.GG

O fator mais interessante é que Oliver compartilha seu HP e MP com os Familiars, funcionando numa espécie de simbiose. O próprio sistema de batalha do jogo mistura combate em tempo real com tático, dando ordens, formando planos e utilizando itens para garantir a vitória.

Em uma determinada parte do jogo, somos introduzidos ao sistema de “party”, onde mais personagens se unem à Oliver para ajudá-lo em batalha. Estes podem ser controlados pelo jogador ou apenas programados para obedecer à certos comandos de comportamento em batalha.

Já em exploração, Ni no Kuni tem um traço interessante: em seu “mundo aberto”, podemos cruzar o mapa inteiro com Oliver, indo do ponto A ao ponto B e enfrentando batalhas durante o percurso.

No modo exploração, vemos Oliver pequenininho com a câmera de cima – Reprodução/MognetCentral

O mapa não é totalmente aberto para explorações (pelo menos de início), o que nos dá uma boa ideia de progressão, e costuma estar recheado de monstros selvagens. Além disso, Oliver é muito lento e é facilmente perseguido e emboscado por monstros. Porém, isso é remediável no futuro com habilidades liberadas por “stamps”, que são conseguidos ao completar side quests e hunts. Assim, a exploração do mapa se torna um pouco mais agradável, e com o tempo, até mesmo certos “veículos” serão usados para desbravar áreas novas.

Ni No Kuni foi lançado originalmente para o PlayStation 3. Até então rodando em resolução 720p, a remasterização conta com novas texturas de alta qualidade para todas as novas plataformas (Switch, PS4 e PC), rodando a 720p e 30 quadros por segundo no Switch. No PS4 normal, o jogo alcança um estável 1080p/60fps. O PS4 Pro dá a opção de 4K a 30 quadros por segundo ou 1440p a 60fps. A versão de PC possui configuração gráfica customizável.

O jogo atualmente está disponível para Nintendo DS, PlayStation 3, Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC, contando com uma continuação, Ni no Kuni II: Revenant Kingdom, para PlayStation 4 e PC.

Nós jogamos as versões de PlayStation 3, Nintendo Switch e PlayStation 4 (o último concedido pela Bandai Namco) para fazer esta análise.


Violet Evergarden – O poder das palavras

O catálogo de animes do Netflix tem aumentado exponencialmente. Desde releituras de Cavaleiros do Zodíaco até obras antigas licenciadas como Black Butler e Hellsing Ultimate, sua expansão constante mantém uma boa diversidade nos produtos disponíveis. Nesse meio, encontramos até mesmo obras mais emocionantes e introspectivas, como Violet Evergarden, que chama a atenção pela belíssima animação e retratação de um período de guerra, além de conflitos psicológicos e superação emocional.

Violet Evergarden é um anime produzido pelo Kyoto Animation, adaptando a light novel de mesmo nome escrita por Kana Akatsuki e ilustrada por Akiko Takase. Licenciado pelo Netflix, foi lançado em 2018 e conta com uma temporada de 13 episódios e um OVA disponíveis na plataforma. A história acompanha Violet Evergarden, a protagonista, em seu processo de reintegração na sociedade e desenvolvimento pessoal após sair de uma guerra que lhe custou a vida de alguém amado. Assim, acompanhamos Violet em sua jornada pessoal enquanto seu universo se adapta à paz do pós-guerra.

“Eu irei correr o mais rápido possível até onde meu cliente desejar. Sou a Autônoma de Automemórias, Violet Evergarden.”

O Kyoto Animation, estúdio responsável pela obra já mencionado, investiu pesado na qualidade e fluidez da animação. Com cenários amplos e claros, urbanos e rurais, tudo é extremamente detalhado e vivo. Nas cenas de guerra e tensão, o ambiente escurece e os detalhes são vistos de forma mais visceral, como no sangue jorrando e corpos impactados em batalha. Os olhos e cabelos dos personagens tem brilho e vigor próprios, o que os torna mais expressivos e vivos, um show à parte. A alta qualidade artística casa perfeitamente com a narrativa fantástica, que explora a moral humana, os conflitos e a problemática que envolve uma nação e uma sociedade que precisam seguir em frente após uma guerra devastadora. E é exatamente isso que Violet faz.

Através de um “serviço de escrita”, Violet se torna uma Autônoma de Automemórias (Auto Memories Doll, em inglês), responsável por escrever cartas para pessoas que precisam de ajuda em escrevê-las para pessoas importantes em suas vidas. Munida de sua máquina de escrever, Violet viaja as mais diversas distâncias por seus mestres, para levar os sentimentos deles em suas palavras. A profissão surgiu após o fim da guerra, e está em ascensão, conquistando pessoas em diversas áreas, desde grandes cidades até os vilarejos mais remotos. Assim, a personagem cresce ao encontrar e se relacionar com outras pessoas em sua jornada pessoal, tudo isso para responder uma pergunta que guia sua busca por respostas.

Violet e Benedict, seu colega de trabalho na CH Postal Company. Ambos trabalham com as cartas: Violet as escreve e Benedict as entrega.

Assim, dentro da narrativa principal, ramificações se desenvolvem conforme a protagonista se envolve com outros personagens e histórias secundárias se desenvolvem. Elas ajudam a tornar o universo mais vivo e tiram o foco da protagonista, o que outras obras não conseguem fazer. Isso fortifica o senso de que todos os personagens são importantes e que seus sofrimentos e superações são válidas; eles existem e não são apenas pano de fundo em sua obra.

O método utilizado para contar a história não é nada novo, mas foge um pouco do padrão linear: somos introduzidos à Violet no momento de mudança em sua vida, e vemos a protagonista aprendendo a se comportar em sua nova rotina enquanto lida com seus traumas. Em paralelo, sua história é revelada aos poucos e a obra se aprofunda assim também, o que pode deixar alguns espectadores ansiosos pela pequena demora que isso leva para acontecer, investindo num certo mistério até aproximadamente metade do anime.

Da esquerda para a direita: Erica, Cattleya e Iris, que também trabalham com Violet como Autômatas de Automemória.

Violet Evergarden é belíssimo, emocionante e poderoso. O desenvolvimento de Violet após os traumas sofridos e dos personagens secundários enriquece e empodera a obra, que ganha ares de clássico mesmo sendo tão recente graças ao esmero e cuidado investidos no universo. Com certeza você desejará receber uma carta repleta de sentimentos gentis ao terminar a história da Autônoma de Automemórias.


Xenoblade Chronicles 2 e a terapia do mundo aberto

Comecei a jogar Xenoblade Chronicles 2 em 2019, quando comprei o jogo de um amigo que estava frustrado com ele e decidiu passá-lo adiante. Este amigo fez críticas severas ao jogo, o que toldou a minha visão sobre a obra e me fez torcer o nariz quando ele o ofereceu para que eu testasse. Porém, algo me impeliu a aceitar a oferta e dar uma chance. Não sei bem o que me levou a isso; talvez tenha sido a curiosidade que a teimosia cria quando alguém diz que algo é ruim e você quer provar um pouquinho com as próprias mãos pra ter certeza.

E nossa, que bom que eu cedi à minha própria teimosia.

Eu já conhecia Rex e Pyra de vista pelos memes e pedidos de entrada deles no Super Smash Bros. Ultimate. Da mesma forma, tudo o que eu conhecia sobre Xenoblade, no geral, era o Shulk, personagem jogável no Super Smash Bros. for Wii U/3DS. Assim, no escuro, comecei minha jornada acompanhando Rex e Gramps enquanto milhares de tutoriais eram jogados sobre mim (sério, pra quê tantos?) e o mundo aberto se abria diante dos meus olhos.

Rex e Pyra, a dupla dinâmica (eu sei que depois eles encontram a outra Blade e tal mas olha pra esses dois! Muita química entre eles.)

Já me era sabido que The Legend of Zelda: Breath of the Wild foi produzido, em parte, pelas mãos da Monolith Soft. A empresa, mesma responsável por Xenoblade Chronicles 2, trabalhou no mundo aberto de BOTW com esmero: planícies, cumes gelados, desertos, florestas, estradas… O sopro de vida que torna BOTW tão único, já que o desbravamento do mundo é grande foco do jogo em si e é um registro da história que abalou Hyrule e apenas vemos através de flashbacks, é mérito desta equipe. Assim, ao desbravar Xenoblade 2, tive a mesmíssima sensação de quando desbravei BOTW: liberdade e curiosidade.

Os longos mapas repletos de pontos de extração eram extremamente divertidos de explorar e buscar. Liberar cada nova localização, elegantemente destacada na tela com seu devido nome, era minha meta; não havia um canto que ficasse intocado por mim. Por fim, observar os animais em seus habitats naturais, bebendo água ou passeando em bandos, dava um ar vivo ao ecossistema do jogo. Tudo isso potencializou minha experiência, junto com o carisma dos personagens, seus diálogos divertidos e os mistérios da narrativa. Assim, criei um vínculo carinhoso com Xenoblade Chronicles 2, e o prazer de explorá-lo acabou com outra consequência: uma pequena terapia.

A qualidade gráfica do jogo cai muito no modo portátil, mas o impacto da vastidão à ser explorada não se perde

Conhecer o gigantesco universo de Xenoblade 2, que tanto me lembrou o mapa de BOTW, se tornou algo acalentador. Eu tenho grande facilidade de me apegar aos jogos que me causam boas sensações, que me tranquilizam ou me cativam com facilidade. E quando isso acontece, há uma sensação terapêutica ao experimentar o conjunto formado pela música ambiente, nos pequenos agrados espalhados pelo mapa na forma de baús do tesouro e nas colinas e através dos caminhos intrincados repletos de atalhos e quando a ansiedade bateu forte de madrugada, eu foquei no som dos passos de Rex enquanto ele corria por Gormott. E, por um momento, parecia que era eu que estava correndo por aquelas planícies folhosas… Fui transportada no clique de um botão, pelo menos até um monstro de nível 85 matar Rex com um golpe.

Então, eu despertava do devaneio com uma risada.

Ainda não cheguei na metade do jogo, e talvez toda essa magia envolvendo a exploração de Xenoblade Chronicles 2 acabe em algum momento. Porém, enquanto isso não acontece, eu aproveito o máximo que posso na jornada para levar Homur… Digo, Pyra, para o tão desejado Elysium. E enquanto isso, termino de pagar o meu amigo, já que depois de testar o jogo por alguns dias, decidi comprá-lo dele em suaves parcelas amigáveis.

“MY FRIENDS ARE MY P…” ops, franquia errada

Bom, começar uma nova jornada que anda me fazendo tão bem e ainda ajudar um amigo pra mim é um combo extremamente útil. É engraçado como isso acontece; às vezes, algo que é desagradável e inútil pra alguém pode ser muito divertido e útil pra outra pessoa. “O lixo de uns é o tesouro de outros”, certo?


Yoshi’s Crafted World — Fofura em plataforma no Switch

Yoshi é um dos meus personagens favoritos da Nintendo, e de Super Mario. O dinossaurinho verde é um dos mascotes mais clássicos da franquia, a ponto de ter ganho um jogo próprio em 1995, com Super Mario World 2: Yoshi’s Island. Apesar do jogo contar a origem de Mario, Yoshi é o personagem jogável, ganhando sua vez de brilhar!

Desde então, Yoshi consolidou-se como franquia, com títulos como Yoshi’s Story, Yoshi’s Touch & Go, Yoshi’s New Island e Yoshi’s Wooly World. Por fim, o título mais recente da série, Yoshi’s Crafted World, traz a qualidade e o cuidado investidos pela Good-Feel no salto para o Nintendo Switch, abusando da qualidade gráfica do console e do multiplayer nativo dos joy-cons.

Cartolinas, papelão, fitas, cordões e tudo o mais que o artesanato permitir

Seguindo um conceito que se iniciou em Yoshi’s Wooly World (também da Good-Feel), com um mundo feito de lã, Yoshi’s Crafted World traz um mundo totalmente “reciclável”, cujos cenários são feitos de itens comuns como papelão, garrafas PET, plástico e afins.

Num belo trabalho artesanal, esses materiais são usados para montar plataformas, construções, transportes e tudo o mais que estiver presente no jogo, o que fica ainda mais bonito com a potência gráfica do Switch. Tanto na dock quanto no portátil, o jogo se mantém extremamente bonito e nítido, criado na Unreal Engine 4, brincando com perspectiva ao tornar o fundo das fases interagível e influenciável na gameplay.

A história segue um padrão comum aos jogos de Yoshi: Baby Bowser e Kamek realizam ações vilanescas e os Yoshis precisam resolver esse “problema” e derrotá-los. Em Crafted World, a dupla de vilões tenta roubar a Sundream Stone da ilha dos Yoshis, cujo poder permite à um indivíduo realizar qualquer desejo. Na tentativa de roubo, a Sundream Stone se divide em cinco Dream Gems que se espalham pelo mundo e cabe aos Yoshis recuperarem todas para repor a Sundream Stone em seu lar.

Kamek e Baby Bowser interrompendo uma tarde tranquila na ilha dos Yoshis

Assim, a jornada se inicia, e atravessamos diversos mundos, fases e desafios enfrentando diversos perigos para repor a ordem. A progressão das fases é agradável, e modos exclusivos quebram a rotina da plataforma, como as fases nas quais Yoshi pilota um avião, controla um robô-Yoshi gigante e passeia de trem um safari. Diversidade é um dos pontos altos da gameplay.

Porém, nem tudo são flores, e há algumas falhas na execução do jogo que são frustrantes. A quantidade de músicas é baixa, repetindo à exaustão o tema principal do jogo, por exemplo. As músicas são marcantes e carismáticas, mas repetitivas na maior parte do jogo, o que causa frustração quando lembramos da diversidade sonora na soundtrack do antecessor, Yoshi’s Wooly World.

Além disso, a utilidade dos amiibos é quase nula, pois nem todos os amiibos podem ser usados e os poucos que funcionam liberam “roupinhas” de papelão para Yoshi (que são úteis pois servem como escudo, aparando danos, mas são esteticamente exagaradas e estranhas em sua maioria). Novamente, é frustrante lembrar que Yoshi’s Wooly World aceitava praticamente todos os amiibos que existem, e liberava diversas estampas de lã inspiradas nos personagens para Yoshi.

Para a alegria de todos, os bebês Poochy e o próprio Poochy estão presentes no jogo!

Por fim, os modos extras que vão além da campanha principal e estimulam o replay são mistos. O modo de busca aos bebês Poochy é divertido, com recordes de tempo disponíveis, mas as buscas aos souvenires no Flip Mode são cansativas quando os NPCs fazem diversos pedidos e o jogador só pode realizar um por vez. Ter que jogar sete vezes o mesmo Flip Mode em busca de sete souvenires diferentes é cansativo, quando isso podia ser feito de uma só vez por fase.

Pros:

  • Visuais extremamente bonitos;
  • Temática interessante (reciclável);
  • Muitas fases e novos modos divertidos;
  • Segue o padrão de qualidade imposto pela Good-Feel;
  • Ótimo co-op de sofá.

Cons:

  • Pouca diversidade de músicas;
  • Modo Flip “cansativo”;
  • Uso de amiibos quase inútil.

Nota: ☕️☕️☕️☕️/5

Plataformas:

  • Nintendo Switch (plataforma analisada)

Yoshi’s Crafted World é, junto com Kirby Star Allies, um dos grandes títulos de plataforma nativos do Nintendo Switch. Extremamente bonito e extenso, com vários modos diferentes de jogo, pode ser aproveitado tanto sozinho quanto no bom e velho co-op de sofá. A Good-Feel conseguiu estabilizar a franquia Yoshi como um must have das plataformas, combinando a fofura e delicadeza características do personagem com cenários caprichados e uma gameplay divertida, com a dose certa de desafio para aqueles que desejam completar 100% do jogo.


ERASED — Suspense e investigação com uma pitada de sobrenatural

Uma pergunta constante que me faço é “até onde as mídias de consumo são capazes de contar uma história com perfeição?”

Às vezes encontramos filmes que dariam bons livros, séries que dariam bons filmes… Nesses casos, concluímos que há uma forma melhor, mais efetiva de se contar determinada história do que a mídia original na qual a consumimos.

Ao me deparar com Erased (“Boku dake ga Inai Machi”, como é conhecido no Japão, e se traduz como “A cidade onde apenas eu não existo”), fiquei cativada pelo peso da história e a forma poética com a qual foi representada na animação do Studio A-1 Pictures, adaptada do mangá original de Kei Sanbe.

A história acompanha Fujinuma Satoru, um homem de 29 anos que trabalha como entregador de pizza após ter fracassado ao tentar se tornar mangaká. Satoru, porém, não é um homem comum; ele é capaz de voltar alguns segundos no tempo usando o que chama de “Revival”, sempre que uma tragédia iminente se aproxima de sua localização.

Satoru e Airi, sua colega de trabalho na pizzaria

Assim, somos introduzidos ao “poder sobrenatural” de Satoru que, depois de uma fatalidade, acaba voltando 13 anos no tempo, aos seus 11 anos de idade. Através do Revival, ele retorna à infância e precisa resolver a maior tragédia de sua vida, um crime que marcou à ele e todos que conhecia em sua juventude.

Com o conhecimento básico da história, pois aqui evitei dar spoilers à todo custo, seguiremos com os pontos positivos da obra, os quais ela tem de sobra.

A narrativa intrigante, que envolve elementos pesados como abuso infantil e até homicídio, tem elementos de fantasia, mistério e suspense que prendem a atenção do espectador e se encaixam de forma louvável.

Mesmo os mais durões se emocionarão e prenderão a respiração ao acompanhar Satoru em sua investigação cheia de reviravoltas e sustos em busca do serial killer que traumatizou nosso protagonista e seus colegas. Com delicadeza e sensibilidade, os socos no estômago dados pelos plot twists são ainda mais chocantes.

As crianças são o foco da maior parte da narrativa

Acompanhando o enredo, e complementando-o, há o desenvolvimento primoroso dos personagens. Como a maioria deles são crianças, e a história envolve investigações e crimes hediondos, é comum se sentir um pouco “incomodado” e imaginar como um bando de crianças de 10 anos pode encontrar e sabotar os planos de um criminoso desconhecido… Porém, a mente adulta de Satoru e seu conhecimento do futuro são a vantagem suprema das crianças, e como ele é o “pivô” da revolução, convencendo os amigos e unindo todos no mesmo ideal, fica sob sua responsabilidade planejar os contra-ataques ao criminoso.

É graças ao esforço de Satoru em manter os amigos à salvo que o próprio Satory se torna mais esforçado e corajoso (como seu super-herói favorito da infância), e seus amigos saem da zona de conforto que era uma bênção da ignorância de sua juventude, crescendo e se tornando mais empáticos. O esforço das crianças em proteger umas às outras, em estenderem a mão e se apoiarem, mesmo sem terem a real noção do perigo que as cerca (ou, no caso de Kayo, tendo noção do perigo e o risco que corria todos os dias), forma uma corrente de amor e apoio que emociona e inspira o espectador.

Fujinuma Sachiko, mãe de Satoru e uma das melhores representações maternas nos animes

Nossa recomendação, por fim, é que os três últimos episódios do anime sejam assistidos de uma só vez. O ritmo acelera e todos os conflitos caminham para o encerramento. Logo, o impacto será maior ao acompanhar de uma só vez.

Com a abertura pelo clássico Asian Kung-Fu Generation e encerramento por Sayuri, Erased é uma obra que surpreende pela forma sensível com a qual lida com temas pesados enquanto cria uma atmosfera de suspense e investigação regada à fantasia. Com personagens carismáticos e importantes, os altos e baixos pegarão o espectador de surpresa, prendendo sua atenção até o último segundo. Disponível no Crunchyroll, Erased também foi adaptado para um live-action de 12 episódios e um filme, bem como uma light novel.


Quando seu nome significa solidão e sua meta de vida é conquistar amigos — Hitori Bocchi no Marumaru Seikatsu

Animes do gênero slice of life sempre tem um lugar especial no nosso coração.

Na minha adolescência, obras como Lucky Star, K-On e Azumanga Daioh foram essenciais para formar meu gosto pessoal e me fazer dar risadas em
momentos de cansaço e tristeza. Até hoje, este gênero querido tem a mesma função pra mim: trazer um pouco de luz quando meu coração está pesado.

Assim sendo, eu constantemente busco novas obras do gênero e, em minha
última busca, encontrei uma menção no Twitter sobre uma obra tranquila,
divertidinha e agradável: Hitoribocchi no Marumaru seikatsu (“A Vida de Hitori Bocchi” ou “A vida que se vive só”, em tradução livre.

Hitoribocchi, para simplificar, é originalmente um mangá da autoria de Katsuwo, que foi lançado em 2013. A adaptação para anime surgiu em 2019, no formato comum de 12 episódios, animado pelo estúdio C2C. A história acompanha Hitori Bocchi (nome derivado da expressão japonesa “hitoribocchi”, que significa “completamente só” em tradução livre), uma garota tímida que precisa mudar de escola e se afastar da única melhor amiga, Kai-chan. Kai decide “terminar” a amizade das duas e diz a Bocchi que só voltará a ser sua amiga se Bocchi conseguir conquistar a amizade de todos os seus novos colegas de turma. A estratégia de Kai é para que Bocchi tenha uma motivação de fazer novos amigos, apesar da timidez e ansiedade social da menina. Assim, acompanhamos Bocchi e sua personalidade sensível em sua jornada para conhecer e conquistar novos amigos, o que ela consegue com muito esforço, lágrimas e… vômito. A pobre Bocchi acaba vomitando quando fica muito nervosa, ou seja, sempre que precisa conversar com desconhecidos.

O ritmo no qual a obra se desenvolve é tranquilo e confortável, com muito
espaço para o desenvolvimento da amizade entre as personagens. Uma à
uma, Bocchi vai conquistando novas amigas e, interagindo com elas, a
protagonista se desenvolve e cria mais confiança. Os episódios em sua maioria focam na vida escolar das meninas, com poucos dedicados à passeios ou algo do gênero. Assim, o passo constante da obra, tal qual a própria vida, é um sopro de tranquilidade nas nossas rotinas tão corridas. É um tranquilizante para a inquietude.

O esforço de Bocchi para superar suas dificuldades e cumprir a promessa feita à melhor amiga é inspirador. Totalmente consciente de sua fraqueza, mas persistente em continuar tentando, apesar das adversidades, ela segue em frente com o coração cheio de esperança. Todos que já passaram por
situações semelhantes ou que possuem algum nível de ansiedade social se
relacionarão com esta jornada e os percalços que compõe nossas tentativas de crescer e sair da zona de conforto. 

Se você busca um anime leve, com a dose certa de emoção e comédia,
considere conferir Hitoribocchi no Marumaruseikatsu, disponível completo no Crunchyroll. A obra tem um efeito “anti-depressivo” que provavelmente afastará até mesmo as bads mais pesadas e fará um sorriso brotar no canto do seu rosto.